Lindos e lindas!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Inconsciente





Inconsciente

Ela tinha muitas manias. Passava o dia penteando seus cabelos e fazia tranças nas bonecas. Ela sorria e dava conversa para todos que lhe ofereciam palavras poucas. Ela era pequena e mesmo assim, já encantava e rodopiava ao som de musicas altas. Não tinha maldade, mas não sabia quando parar. Era incrível, não deixava que tocassem em seus vestidos rodados, mas se encontrava sempre no parque, brincando com terra e bola. Andava descalça para sentir onde pisava. Dizia isso a todos. Era cativante. Conversava com a sombra, com fadas e com as arvores. Como sentia a natureza! Tão pequena... Tão distante. Ela tinha mania de guardar segredos. Segredos das pessoas, segredos simples, que para ela fundiam a imaginação com a realidade. Ela era tão pequena que se fosse para a praia, ela se sentia parte de lá, tinha que ficar cuidadosamente a vigiando, deixando que ela se sentisse livre. Ela começou com novas manias. Já não era tão pequena. Foi selecionando seus tipos de alegria, e deixando de lado sua liberdade para se trancar em sua realidade. Não queria saber. Tinha mania de bater a porta e de não ouvir mais. Não queria estudar matemática e não queria cobrir suas pernas. Ela saia pela janela quando chegava de noite, e sua brincadeira favorita era fazer compras, não mais a terra e a bola. Ela amava ainda fazer trilhas, mas se poupava do que dizia ser pessoas simpáticas demais. Ela não conversava como antes, e chorava escondido. As pessoas não sabiam, não entendiam o que acontecia. Ela escondia bem seus segredos, mas não seu olhar triste. Hoje ela esta maior, com traços leves ao redor dos olhos e coração apertado. Ela ainda não se lembra de seu passado todo, não se lembra de seu relicário com folhas secas e papéis de bala. Eu o guardo, hoje, como segredo meu. Um dia posso contar toda a história para ela. Quando ela se olhar no espelho, quando ver seus olhos ainda encharcados, pedindo um sorriso de si. Eu sorrirei, como um reflexo espontâneo, e a farei lembrar dos dias em que a preocupação era apenas ser feliz. Livre de verdade. E aí, poderá tirar novamente seus sapatos, e sair pelo gramado, só para sentir o frio e úmido macio que só o tempo proporciona.

Raquel Lauer

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