Lindos e lindas!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Caminhos certeiros




Ela segurava tão forte a mão da mãe, que nem um tornado magico a faria soltar. Segurava tão forte que na hora do beijo e do tchau, despencaria em lágrimas e medo.
Medo tão bobo, mas tão intenso e verdadeiro.
Medo de se sentir desprotegida e só, vulnerável e carente. Nem sabia o que significava a palavra vulnerável, mais em si, se sentia exatamente assim.
Não queria ver todas aquelas crianças brincando juntas naquele parque que ela nem conhecia ainda, mas sua mãe disse que seria bom, então por que tudo isso? Talvez sua mãe mentisse, assim como disse que brócolis era gostoso! Não era.
Suas sapatilhas eram novas e tinham um leve tom avermelhado brilhante, não se dariam bem ao barro. Mas para dispensar desculpas, sua mãe carregava um par de tênis gastos dentro de uma sacola de plástico. Não se esqueceu das meias nem da toalha.
A mãe sentia seus apertos e via os olhares, mas fingia muito bem que não reparava naquela cena. Seria isso e pronto. Tinha que ser assim.
Uma hora ela teria que superar esse medo.
Medo de estar com gente e de ver gente. Tão criança e ingênua já tendo que lhe dar com a rejeição do pai e nem saber que isso acontece em sua integra.
Sua mãe não demonstrava sentimentos, mas sabia que assim seria melhor.
Ela não sabia que era por isso, tanto medo daquele pedaço de terra cheio de crianças de risadas fortes e cabelos bagunçados.
Não sabia das coisas, mas as imaginava em cada detalhe.
Estava vendo, como sua mão poderia fazer isso com ela? Ela não sabia de nada, não entendia nada! Mas a deixava tão segura que na maior parte do tempo isso não importava...
Estava ali, no portão e o coração começou a pular forte, via sua mãe abaixando lentamente para beijar-lhe as bochechas já roseadas da caminhada um pouco longa, sentia que um lágrima estava querendo sair. Previu tudo isso.
A mãe estava tão calma e confiante que não dava espaço nem para um escanda-lo, não seria necessário.
Aquele portão de madeira se abriu, e uma mulher com um sorriso simpático cumprimentou com um aceno que mais parecia um convite que um simples olá.
Ela não se deixou esperar, pegou enraivecida a sacola da mão de sua mãe e se desprendeu dela como um desproposito cheio de birra.
Mas naquela hora, hora em que tudo parecia se desvencilhar de seus desejos, eles mudaram, não devagar como um a um.
Foi simples assim como cabeça de criança deve ser. Foi espontâneo e verdadeiro, aquelas crianças todas, saindo pelo portão, sem controle, apertando a mão, elogiando os sapatos, convidando para brincar de pega-pega e comer sanduiches de atum.
Tudo parecia ter mudado, mas não como uma comparação do caminho com a chegada, lá estava tudo tão bem que não tinha trajetória.
A mãe viu sua filha entrando sem ao menos dizer tchau, levantou-se e numa breve tentativa de contato com a filha, gritou pedindo que não esquecesse se amarrar o cadarço de seu tênis. Tentativa em vão e feliz.
As duas mulheres se olharam, a mãe e a senhora, as duas tinham um brilho inigualável em seus olhos. Brilho de orgulho, que só as mães têm.
A mãe acenou e se virou, ia tomar um café e depois voltaria para buscar a filha.
Agora imaginava como seria, ao invés de não querer ir, não ia querer voltar.
As dezoito horas pontualmente estaria lá, orgulhosa de sua mão firme e do sorriso que conseguiu estampar em sua filha.
Afinal, mesmo com pequenas mentiras sobre legumes, sabia como melhorar uma tarde e fazer a dor esquecer um pouco de seus corações.

Raquel Lauer