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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Entre contos: Entre os erros, a dor

Entre contos



Entre os erros, a dor

"Não! Por favor, não desligue o... Telefone..."
E foi assim que suas palavras se perderam em meio aquela solidão de seu apartamento. Tutututu.
E ninguém mais do outro lado da linha respondia.
Ela só queria paz, chá quente sem açúcar e um abraço dele. Neste momento, só teria o chá mesmo. Ou melhor, a lata na dispensa está vazia. Está agora, sem nada mesmo.
Olhando fixamente para o aparelho telefônico, ainda fora do gancho, se imaginou falando, discando e até mesmo uma conversa, está que sabe ela, jamais aconteceria.
Ela errou, foi um errinho, um errão, mas queria poder dizer isso, as vezes nos momentos mais sombrios é que se enxerga a luz não é? Não, nem sempre. As vezes quando acendem a luz, pegam você no flagra beijando o melhor amigo do seu namorado.
Ela não tinha um motivo, se sentia amada, até demais, ele era carinhoso... Então por que? Essa história de um cara estar te sufocando, na verdade não seria uma desculpa para isso, não seria capaz de espalhar que seu término fora por isto ou aquilo.
Foram risadas, alegrias e aquela briga boba que a fez se apaixonar, foi o tempo macabro - neste momento - que a fez não entender mais nada e esquecer de tudo que realmente valia a pena.
Descalça, apenas de meias nos pés, sentia que não precisava mais de explicação alguma, para quem explicar, quem ela queria enganar? Foi um engano, um erro que ela não poderia consertar, apenas nas suas ilusões antes de dormir, onde tudo acabava com o felizes para sempre.
Trimtrimtrim. "Alô!?"
"Ah, oi, deixe meus CD's de rock na portaria e minha camiseta do Nirvana também, passo mais tarde para buscar e deixo lá uma caixa com seus pertences. Tchau."
Antes que ela dissesse algo, o telefone já estava desligado, agora o dela também. Arrumou com calma: Nirvana, Pear Jan, Detonautas... Ah, será que ele esqueceu dos botons? Que seja, agora são dela e ninguém toca neles.
A tarde foi escurecendo e ela descia as escadas rapidamente - eram apenas dois andares, achava ridículo pegar o elevador, a menos que se encontrasse cheia de sacolas de super-mercado ou coisa do tipo - não tinha hora, mas seu coração não permitia que aquilo durasse mais.
"Uma caixa para a senhorita! Presentes?" O porteiro disse, todo animado, pensando que foi uma troca carinhosa - e sem tempo - de dividir pertences. De que mundo ele veio?
"Não, não, só tralhas velhas mesmo, obrigada."
Com a caixa em mãos, percebeu que era a caixa de sapatos decorada que deu de natal para ele. Seguindo para o portão do prédio, decidiu que ia pegar sua bicicleta e se dirigir ao parque, afinal, não podia abrir aquele "furacão" dentro de casa.
Vamos lá, cartas que ela escreveu a dois anos atrás até as de seis meses atras, sem motivo, havia parado com esse habito. A aliança... Por que ele não ficou com ela? Afinal, eu devolvi a minha e... Dois bilhetes para assistir aquela banda... Mas... Dentro do envelope tinha algo mais, quase isso - ou melhor, isso:

"23 de setembro de 2014

J.F.

Não compreenda as dimensões de seus atos, seria de muito pouco aprecia-la em prantos, tais aos quais estive nos últimos dois dias. Se o fizeres, que seja por tua conta e risco. Mas saiba que te amei, em cada ponto em cada defeito, mas não é que eu não a aceite da forma mais crua que você poderia ser, simplesmente por mim, não posso ter a insegurança puxando meus sentidos e a dor latejando meu peito a cada vez que estiver ao seu lado. 

Mais uma coisa: Aproveite este show, era o que te daria de aniversário, agora te dou como um presente irônico de adeus, já que foi com essa trilha sonora que puxamos os primeiros papos. É isso, tchau e por favor, não me ligue.

Sinceramente, B.T."

Em papel reciclável e bem dobrado, via que a carta estava manchando, não para menos, pois suas lágrimas eram incessantes.
Mas ao pensar em ir ou não, decidiu que também daria um adeus a este ponto de sua vida, já que é da terra que nasce as plantas, decidiu que ela seria um jardim, e iria àquele show.

- Raquel Lauer

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