Lindos e lindas!

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Entre contos: Entre acertos e desconcertos






Entre acertos e desconcertos

Ela não acreditava, não podia. Nem tudo que acontecia era verdade não era?
Mas era, como negar? Estava ali. Vendo todas as suas lembranças tudo o que tinha em poucas e pequenas caixas de mudança. Para onde iria? Mandaram ela embora por falta de pagamento do aluguel, mas ser demitida, ter que trancar a faculdade e estar sozinha ali, não ajudava em nada não é mesmo.
Suas únicas opções: 1 - alugar um quarto numa pensão bem barata, no máximo daria para uma semana. Sofrer pelo seu orgulho mas ter onde dormir de graça na antiga e quente casa de seus pais. Dois velhos muito simpáticos eu diria, mas para ela, retornar lá seria o mesmo que dizer: eu estava errada!
Vale a pena, o caminhão estava quase saindo e ela não tinha nem dinheiro para dar de ajuda ao vizinho que lhe carregou as cadeiras e o sofá de duas pessoas. Esperava ela que um "Obrigada pela ajuda" fosse suficiente. Ainda bem que foi mesmo.
Sem tempo - sem também mais cabeça para pensar - disse o percurso ao motorista e seguiu dentro do caminhão, carro não era algo que tinha e nem pensava em ter na sua atual situação. Essa coisa de caro popular, ainda era caro demais!
Sua mão na testa, sua cabeça baixa, se sentia tão derrotada quanto se poderia, não sabia ela que errar e seguir novos caminhos além do medo, dão coragem também.
Ding dong. Ding dong. Tocou a campainha duas vezes e esperou, ninguém vinha, virando-se e começando a descer os poucos degraus, um senhos com um ar simpático abriu a porta:
- Filha? É você?
- Pa-pai... Eu... Não que seja apenas por isso... Eu não sei como explicar... É que, vocês tinham razão, você e a mamãe, não poderia levar o mundo nas costas e esperar aguentar o peso de tudo sozinha, não dá! - disse enquanto ia em direção ao pai para abraça-lo.
- Mas você não ligou mais. Não nos atendia... Ver você apenas nos feriados, e naquele silêncio estranho, era assustador!
- Eu sei... Não sabia o que fazer...
- É filha, seu orgulho foi sempre quem mais te machucou. Mas não vamos falar sobre isso! Que caminhão é esse? Sua mãe esta na cozinha, bolo de fubá cremoso, lembra? Você sempre repetia o café da tarde!
- Ah pai, fui... Eu queria me mudar... Eu não tenho para... São meus móveis
Sem dizer nada, a expressão do pai era de compreensão e de amor, não queria julgar a filha, sabia que ela fazia isso sozinha e já não achava isso bom. Apenas colocou a mão levemente sobre suas costas, ela se sentia uma derrotada ainda, mas não tinha como não se sentir amada naquele momento.
Com apenas um gesto que o senhor fez com as mãos, o motorista do caminhão se dirigiu a porta e então ele lhe disse:
- Coloque as caixas e o que estiver aí no porão, - virando-se para filha explicou - morou sozinha querida, lugar para novos móveis não temos direito, mas seu quarto esta ainda como o deixou, suas bonecas de porcelana e sua coleção de figurinhas, estão nas prateleiras e gavetas, talvez tenha crescido, mas lembre-se: seu coração sempre terá um lugar para as suas raízes!
- E para a saudade papai!

Com um copo de café nas mãos e esperança no coração, pegou os jornais diários do pai e circulou as vagas de empregos que ligaria logo cedo para tentar uma nova experiencia.
Ah, sobre a faculdade, ela decidiu que continuaria, mesmo que apenas no próximo ano. Ela iria fazer mais que estudar e levar a vida: ela aprenderia e amaria a vida!

- Raquel Lauer


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