Lindos e lindas!

domingo, 11 de agosto de 2013

Decencia vulnerável




Aquela era uma família simples. Havia um teto em suas cabeças e poucas palavras em suas bocas.
Ficavam sobre suas patas, esperando um oi de qualquer que fosse o lado das paredes. Mas o dialogo vinha tão rápido quanto se ia embora.
Todos eram muito carentes e muito confusos para admitirem isso. Um sem o outro era algo. Um com o outro era uma coisa.
Eles não sabiam mais do que viam. Não viam o sol, não sabiam realmente o que era luz. Não viam a lua, não sabiam realmente o que era brilho.
As crianças não viam gravuras e desenhos, não sabiam imaginar.
Ficavam como gente adulta, quietas, em silêncio, esperando que algo mudasse, e que viesse do teto, pois não se moviam para isso.
A rua era perigosa e pararam de se atrever. O homem em seu calçado de solado baixo ia se esgueirando pelos cantos da estrada a procura de emprego braçal. Podia cortar lenha recolher o lixo se pedissem. Mas não podia escrever e nem fazer contas.
Era longe de tudo onde se mantinham quase seguros. Não se protegiam da sua loucura, por isso o quase era inevitável.
Comida era algo sem prazer, algo que se ia numa tigela e alimentava. Pelo menos tinham, quando tinha. Bebiam água de torneira, a única que estava na casa, pairava sobre uma pia bagunçada e pequena. Dali vinha a saciedade e o lado humano.
Talvez por não conhecerem outra vida, eles tenham sido felizes assim.
Sem saber abraçar, sem saber o que é alguma coisa além daquilo. Não os poderia julgar grandes perdedores, pois eram apenas pequenos seres procurando jamais serem descobertos.

Pelo o que nem eles saberiam dizer.

Raquel Lauer

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